Por Júlia Vita
Arando estorvos
veio em grão de chuva em luz
arado de meu desaconchego
umidade descompacta junto
escorro
ninguém me encontra pois então
sou muitas
faço justa falta de foco
sem que a digam falha
agora que não acham nem a quem
dizê-la – levaria esforço
não perderiam tempo com estas
que me tornei ervas
muito mais
daninhas
eras
Benza
Azedeira!, flor vermelhada
vivaz, vivaz
persistência terrárea
Nesse barro ainda dá pé
plantação de infância suja
à calçar melão de bucha
Não é de bênção
a canção – é benzedeira
de cascar, trepação e
aroeira.
Flores àbertas e margaridas
Frágil no soy sola
Raíz daqui salva além
do nosso solo
Quando brava, saia
cuida-te o encosto
Não mais nos despunhem de mãos
a enxada
Não mais o direito
de nos inchar
após o rosto
Faltou – não mais
La Esperanza em la terra além mar
flores àbertas do ingazeiro a Intibucá
Margarida perpétua teu
suspiro roxo
Rama pubescente alastra em nós
galhagens sobreviventes.
Minhas fendas
Haja vista que pudesse ser eterna onze horas
ao tempo expectado cumprindo movimentação
que não mais quis:
cápsula, se origina de ovários
abrindo-se por mais de duas fendas
Uruculminei melhor deste modo em vários,
do que em um apenas.
Arbusta, raiz-preta
caninana
mordidas desfeitas, viro casca até veneno
posso com meus dedos amargos
fazê-los ácidos
de mais fendas!, minhas fendas –
viva e morra.
Nenhuma amena
Um pano de chão
com o peso do molhado:
assim eu me sentira
Hoje acordei pensando solitária
quem mais me torturou
Eles me apertavam e eu me retorcia
Eles na torcida de que eu nao suportasse
um só mais golpe repuxado
Quando pensavam ao máximo me terem definhado
Quando pensavam ao máximo meterem esticado
eu resistia
Deslizava macia,
flanava no vento e pousava no chão
flanela pronta para reabsorver
as lágrimas algodão
Abraço-os por me torcerem
de uma vez só.
úmida do passado
apesar de despesada,
Continuo limpando a nós outras
a sujeira que deles desaba.
-em memória e presença de Lucía Perez
Ni la tierra ni las mujeres
Por ser território de conquista
de riqueza exploração
afetiva
segurar no lombo o choro de quando a vida chove sendo dia e também morte
Levantar grão em encosta acimentada contendo
nossa história em comum do início ao agora
Não me encosta
é tóxico o chão da gente
forçada a esquecer o que é amar até
Pelo silêncio dos homens
que diziam amar a terra.
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